"Ser ou não ser eis a questão. Será mais nobre sofrer na alma pedradas e flechadas do destino feroz ou pegar em armas contra o mar de angústias."
Hamlet é o príncipe da Dinamarca e seu pai o rei Hamlet é morto, sendo assassinado
pelo seu próprio irmão Cláudio, que o envenena. Um mês após a morte, Cláudio
casa-se com a mãe de Hamlet (Gertrudes), e isso causa uma revolta na
personagem, pois sua mãe não respeitara o luto devido ao seu pai. Para
complicar, ainda mais, Hamlet recebe uma visita do fantasma do seu pai que o
conta sobre o seu envenenamento, ensejando em Hamlet o desejo de vingança. Contudo,
Hamlet é um personagem complexo, e essa decisão acaba levando toda a obra.
Entre muitas relações que podem ser feitas entre a peça e a psicanálise, como a ideia de culpa, traição, complexo de Édipo, entre outras, prefiro a ligação entre o protagonista da história e a melancolia.
Entre muitas relações que podem ser feitas entre a peça e a psicanálise, como a ideia de culpa, traição, complexo de Édipo, entre outras, prefiro a ligação entre o protagonista da história e a melancolia.
De uma forma geral, na
história do pensamento, a melancolia sempre esteve ligada a uma capacidade
maior de discernimento, maior inteligência, maior feeling, ou seja, uma maior
capacidade de enxergar a vida como de fato ela é. Enquanto, pessoas felizes
demais, parecem não enxergar essa verdade vista pelos melancólicos. Não é à toa
que o filme Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) ganhou o Oscar.
Esse conhecimento traz
um peso, pois o melancólico enxerga, no mundo, aquilo que os outros não
conseguem ver, e isso, leva a um embate moral constante no indivíduo
melancólico, o qual se vê o tempo inteiro sendo confrontado pela realidade.
Sendo assim, em primeira análise, o melancólico sofre de si mesmo, por saber
mais que os outros.
É nesse entendimento,
que reside o fardo moral do melancólico. A ideia é que quanto mais sabemos
sobre algo, mais nos é imposta uma atitude. O Hamlet percebe uma
insustentabilidade no mundo que os outros não veem, isto é, a humanidade do
indivíduo é vista sob a perspectiva da precariedade, em que a própria condição
humana é um empecilho para uma vida plena, e quanto mais esse contemplador do
mundo adquire conhecimento, a sua capacidade de se alegrar com as coisas
diminui.
Por esse motivo, Hamlet
é visto pelos “ignorantes” como um ser diferente, afastado da realidade e não,
raras vezes, louco. A loucura, aliás, é um traço marcante daqueles que se põem a
pensar, e se contrapor a ordem estabelecida, isto é, aquilo que é descrito pelo
senso comum.
A viagem que Hamlet faz
nos leva a problemas existenciais. O que é a vida? O homem? Por que
estamos aqui? Somos tão precários? Carregamos tantas mazelas? A
busca por um sentido na vida faz do ser melancólico um enigma existencial, pois
o seu conhecimento, traz obrigações morais (deliberações livres sobre a melhor
maneira de agir perante uma situação) e certo receio ao tomar a atitude
desejada, uma vez que a contemplação do mundo que o melancólico possui, o faz repensar
as suas atitudes.
"O pensamento assim nos acovarda, e assim é que se cobre a tez normal da decisão com o tom pálido e enfermo da melancolia."
É esse embate
psicológico, que faz com que Hamlet só tome atitudes, propriamente ditas, ao
final da peça. Ou seja, o protagonista passa toda a peça discutindo
consigo mesmo sobre a atitude correta a ser tomada, será a melhor ação vingar a
morte do pai? Mas, ele, enquanto, sabedor da vida mais que todos ao seu redor, não
pode tomar uma decisão, antes que o seu eu por completo tenha certeza.
Em outras palavras, o problema
do melancólico é sempre dele com ele mesmo, é sempre uma decisão moral. Talvez, por isso,
a loucura seja associada a esses indivíduos, visto que enxergar a verdade, nos
mostra o quão finitos somos, nos faz questionar sobre o sentido da vida, nos
mostra nossas vicissitudes, nos leva além de águas rasas.
O grande problema, assim, não é a condição precária do homem, mas a consciência dessa condição, a qual o melancólico possui.
O grande problema, assim, não é a condição precária do homem, mas a consciência dessa condição, a qual o melancólico possui.
"Sou arrogante, vingativo, ambicioso; com mais crimes na consciência do que pensamentos para concebê-los, imaginação para desenvolvê-los, tempo para executá-los. Que fazem indivíduos como eu rastejando entre o céu e a terra?"A existência é pesada, é insustentável ao melancólico. O melancólico é guerreiro e covarde, é artista e contemplador, é certeza e dúvida, é o questionamento da vida, dos outros, mas acima de tudo - do ser ou não ser. Eis a questão.
Adorei o blog! Virarei frequentadora assídua.
ResponderExcluirOlha que legal essa reflexão @pauloprates... Como gosta de citar Shakespeare....
ResponderExcluirOlha que legal essa reflexão @pauloprates... Como gosta de citar Shakespeare....
ResponderExcluirOlha que legal essa reflexão @pauloprates... Como gosta de citar Shakespeare....
ResponderExcluirExcelente, que bom que descobri este espaço.
ResponderExcluirObrigado Selma! Sinta-se à vontade.
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