quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Tente outra vez. Fracasse outra vez. Fracasse melhor



Às vezes a gente sonha, imagina um futuro, cria expectativas e, contrariamente ao que queríamos, a tudo que planejávamos, a vida nos leva por outros caminhos. Tempestades fortes, com rajadas de vento geladas, destroem tudo que construímos com enorme esforço. Como se não bastasse, o céu se abre, não para nos iluminar, mas para derrubar torrentes de água que parecem cair somente em nós, como se o universo buscasse de algum modo nos sufocar, transformando-nos em grandes silêncios contínuos de tristeza e desilusão.

A vida em sua extrema exuberância não nos permite compreendê-la e, assim, inevitavelmente sentiremos o peito esmagado pela angústia de não saber para que lugar estamos indo ou pior, não saber perfeitamente o que é o mundo em que vivemos. Com os fracassos que vamos adquirindo, a angústia muitas vezes se converte em tristeza e desesperança, de tal maneira que nosso coração fica tão seco e duro, que perdemos a capacidade de sentir e sonhar.

Desse modo, o viver se torna mecânico, o olhar cinza, os pés completamente presos ao chão. O sujeito sem alma e, por conseguinte, desanimado, perde a vontade de continuar a caminhar, com medo das novas tempestades que sabe que encontrará. Medo de tentar, de cair, de fracassar. Todavia, há outra maneira de viver, senão flertar com o fracasso? Há outro modo de viver, senão enfrentar “Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo infantil de ter pequenas coragens”?

Não há como viver sem estar disposto a enfrentar o mundo e inevitavelmente fracassar. Não há como sentir prazer, sem antes tropeçar na dor, não há como saber o que é alegria, sem conhecer a tristeza. A vida se equilibra em contrastes, o que de um lado traz medo e confusão, e de outro, cor, brilho, felicidades, pois são os contrastes que fazem emergir o novo, o inconcebível, o permanente.

Assim sendo, os fracassos são, antes de qualquer coisa, contrastes entre a doçura e o amargor, o conhecimento e a ignorância, a imensidão da dor e as lacunas de felicidades, a infinitude da vida e a finitude do homem, a secura de uma alma e a alegria da descoberta. Ser parado pelos fracassos é desistir de ser homem, de ser poeta, de ser sonhador e perder a dura, mas maravilhosa, capacidade de dobrar a realidade e dar ao mundo fantasia.

É bem verdade que por vezes as circunstâncias nos levam a querer desistir e a pensar que a melhor coisa é logo morrer para que o sofrimento dessa terra selvagem se estanque. Entretanto, essa é somente a escolha mais fácil, um fracasso último que não permite outros. Ora, mas o que somos nós senão o resultado dos fracassos que tivemos? O crescimento, a maturidade, as reinvenções, as epifanias, as maravilhosas loucuras, as belezas descobertas em lugares jamais imaginados, os caminhos desbravados que levaram às maiores alegrias. Tudo construído pelos fracassos, pelas novas rotas que nós fomos obrigados a tomar.

Fracassos são dolorosos, mas inerentes à vida e ao prazer. Sem eles não passamos de rabiscos inexpressivos, porque só cai, quem está disposto a se jogar no reino dos mistérios, atravessar o vale da sombra da morte e encontrar o caminho de felicidade a que estamos destinados.

Samuel Beckett disse: “Não importa. Tente outra vez. Fracasse outra vez. Fracasse melhor”. Eu vos digo, os fracassos são quedas que nos levam às depressões e nos fazem querer chegar às montanhas, mas o alto da montanha não é o mais importante. O mais importante, o que realmente importa, é nunca parar de subir. É escorregar em uma rocha solta, cair e subir novamente. É perceber as belezas que passam em raros momentos de grandiosidade infinita entre a queda e o passo de dança, a depressão e a montanha, o real e a poesia, o homem e o divino e, sobretudo, entre o fracasso e o sucesso daqueles que tentam outra vez, fracassam outra vez e fracassam sempre melhor.

16 comentários:

  1. Parabéns pelo post Erick,gostei muito!
    Comecei faz pouco tempo a escrever em um blog com mensagens e reflexões motivacionais caso queira visitar fique a vontade:www.autoestimaecia.blogspot.com

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  2. (Novo Anônimo)
    Parabéns pelo texto! Muito bom!
    Estou passando por um momento difícil e é essa coragem que, nesses momentos, precisamos! O importante é aproveitar o caminho e não o topo da montanha!
    Abraço!

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  3. Muito bom, eu gostaria de saber quem é o autor do texto por gentileza.

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  4. Muito bom, eu gostaria de saber quem é o autor do texto por gentileza.

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    1. Obrigado Claudiano! Sou o autor de todos os textos do Blog. Estamos em um novo enderenço: www.genialmentelouco.com.br
      Continue acompanhando por lá, abraços!

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  5. Obrigado! Estamos em um endereço novo: www.genialmentelouco.com.br

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  6. Pois é, o sentimento do fracasso é algo que nos causa uma sensação bem desagradável, mas é algo que ninguém está imune. Todos estão sujeitos ao fracasso, o problema é como cada um lida. Confesso que está sendo difícil lidar com esse sentimento. Fiz uma escolha difícil ao sair da "zona de conforto" de um curso que estava fazendo mas que já não mais suportava e de um trabalho de estágio que eu praticamente me arrastava para ir. Troquei tudo isso por um sonho de uma outra graduação, mas até agora todas as tentativas de passar no curso repercutiram em fracasso - dois anos se passaram e eu troquei o certo pelo duvidoso. Sinto a pressão do mundo e a pressão do tempo, sinto que voltei á estaca zero e estou novamente preso a um serviço que não me agrada muito. Tenho a sensação de que só fracassei, mas lendo esse texto de hj percebi que fracasso não é uma escolha, mas permanecer nele é opção. Por isso sigo firme na luta e na esperança de um dia me sentir realizado nos estudos e profissionalmente e alcançar meus objetivos e sonhos.

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    1. Olha, eu não lhe conheço, mas também abandonei um curso (Direito) em uma universidade pública conceituada para fazer o que realmente gostava. Passei por problemas internos, todavia, hoje dominei os meus monstros e estou certo de que fiz a escolha certa e devo arcar com as consequências, tanto boas, quanto ruins, porque a vida é um contraste perene entre o tudo e o nada. Continue firme, porque a crise que você passa agora, todos uma hora passarão e pela sua coragem, sei que já merece respeito ante os que se acovardam com o mundo. Estou com um site novo: www.genialmentelouco.com.br , dá uma conferida e curti a nossa página também para continuar acompanhando os textos. Quando quiser, o meu e-mail também está disponível.
      Abraços e fé na luta!

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  7. O medo de não ser boa o suficiente...

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  8. É muita turbulência para uma vida só!
    Li o texto com a cadência de uma música africana acelerando o meu coração. Pensei no estilo de vida de meus conterrâneos da Zona Rural. Quanta tranquilidade, pobreza e trabalho duroque marcam suas vidas e eles não deixam entrar em suas vidas essas turbulâncias todas, na sua grande maioria! Sempre lhe oferecendo um cafezinho com beiju ou puro e haja conversa! São muitos casos(causos), perguntas sobre a cidade grande, demonstrando sua ogeriza por ela, dorme e acorda cedo, vai caminhar. Tudo tranquilamente! Por que eles podem e eu não? Estilo de vida! Talvéz eles não tivessem escolhido, foi empurrado para lá! Vida simples não é sinal de simplória! precisa-se de tudo para se ter uma vida dígna" saneamento básico, estradas,água potável, escola,posto de saúde e chuva! Quem , das pessoas que vivem na correeria quer fugir dela? Quase ninguém! Preferem andar exausto-e cansado - e dopado, como diz Braun.#euqueroumavidasimples!

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