segunda-feira, 14 de março de 2016

O espírito de sinhozinho nas manifestações da casa grande chamada Brasil



A situação política do Brasil chegou a um ponto de extrema caoticidade. De um lado pessoas se apresentam como heróis que vieram devolver a paz a uma nação que sofre. De outro, existe um grupo de pessoas que não sabe de nada, que não fez nada e que não sabe o porquê do país está imerso nessa crise. Diante disso, as pessoas se organizaram em um movimento, em um dia 13 (número tão emblemático) para verbalizar o coro ensaiado de “Fora Dilma”, “Fora Lula”, “Fora PT”, “Vão pra Cuba que te pariu” e por aí vai. Então, pensei em ir às ruas, porém, pensei melhor, não fui e fiquei pensando em que movimento eu iria.

Eu iria às ruas se o movimento representasse a luta contra a corrupção generalizada dos partidos, que a torta e a direita (não é um mero trocadilho) saqueiam o país. Eu iria às ruas se a mesma indignação nutrida pela presidenta Dilma, pelo Lula e pelo PT, estendesse-se a Renan Calheiros e Eduardo Cunha, os quais são autoridades máximas de um dos três poderes, tenho que de fato ressaltar isso, porque me parece que as pessoas se esquecem de que o Brasil não é uma monarquia.

Eu iria às ruas se a trupe do Aécio não fosse vista como a ordem redentora do Brasil. Eu iria às ruas se a palavra bandido fosse aplicada tanto para um barbudo de vermelho quanto para o bonitão patrício. Eu iria às ruas se não houvesse a fantasia de que a sujeira do país se circunscreve a um partido político.

Eu iria às ruas se o movimento não fosse apoiado pela rede Globo, a qual apoiou a ditadura militar, colocou um playboyzinho com dentes bonitos no poder e não consegue aceitar o resultado de um pleito democrático. Eu iria às ruas se a mídia não fosse alienante e maquiavélica, buscando sempre atender aos seus interesses sem o menor compromisso na formação de conteúdos que elevem o poder crítico da nação tupiniquim.

Eu iria às ruas se houvesse propostas e um projeto político que de fato pudesse trazer melhorias. Eu iria às ruas se “impeachment” não virasse gíria que é aplicada pra tudo. Eu iria às ruas se a oposição fosse organizada contra a corrupção do governo, contra os seus erros e tivesse uma agenda que propusesse uma reforma política para tanto. Mas, esqueci-me de que essa oposição também está até o pescoço de lama e que quer apenas aproveitar a oportunidade de tomar o lugar do opressor.

Eu iria às ruas se não visse uma mulher negra tomando conta de uma criança, enquanto uma casa grande regada de champagne e selfies esbanja sua consciência social. Eu iria às ruas se essa mulher não estivesse estigmatizada, de branco, a parte dos nossos queridos patriotas de Instagram, caras pintadas de cidadania de Facebook e paladinos da igualdade de Twitter.

Eu iria às ruas se não visse o futuro repetir o passado, se as ideais correspondessem aos fatos, se não visse um muro de hipocrisias. Eu iria às ruas se a pauta também fosse o jeitinho brasileiro. Eu iria às ruas se não tratássemos a corrupção do dia a dia como normal e se a igualdade a que se refere à lei não fosse uma mera ficção jurídica.

Eu iria às ruas se a luta fosse contra todo tipo de corrupção e todo tipo de corruptor. Eu iria às ruas se falar de política não fizesse parte da conversa apenas quando dói o bolso. Eu iria às ruas se quiséssemos uma nação melhor para o Povo. Para eu, para você, para o bem nascido, para o favelado, para o branco e para o negro. Eu iria às ruas se ouvisse o couro de que estamos cansados de tanta miséria e apartheid social. Eu iria às ruas se o meu maior problema fosse a camisa da GAP que a empregada manchou.

Eu iria às ruas se fosse um analfabeto político. Mas, eu sei ler e escrever, também sei que jabuti não sobe em árvore e que a direita conservadora não gosta de sentar ao lado de um pobre em um avião, tampouco, quer que este seja mais que o terceiro estado.

Sei que nem todos os presentes nas manifestações representam esse pensamento, mas a sua grande maioria representa, de tal modo que não percebo grandes diferenças entre estes e aqueles que estão no poder, tampouco, aqueles que estão loucos para tomá-lo. Enquanto assim for, eu não irei às ruas e só para constar, só irei quando o pensamento maior for o de pôr abaixo a casa grande e a senzala e unir todos em uma só casa chamada Brasil.

7 comentários:

  1. Enquanto este dia não chega,qual sua postura?

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  2. Enquanto este dia não chega qual sua postura?

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    1. A minha postura é a favor do Brasil, do fortalecimento da democracia, das garantias constitucionais e de um profunda reforma não só política como social, afinal, a classe política sai da sociedade e é imunda porque esta está doente.
      Abraços!

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  3. Érick senti um paradoxo nesse texto, em relação à sua autoria anterior. Ao mesmo tempo que você expressa sua indignação com o comodismo da sociedade atual, você expressa nesse um pensamento completamente contrario. Extremamente antagônico seu pensamento.

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    1. Bom, não vejo contradição, todos os meus textos, não apenas os últimos buscam criticar o status quo, a servidão voluntária e nosso jeitinho que contribui para isso. A classe política sai da sociedade e por isso ela é tão corrupta, uma vez que a nossa sociedade é extremamente doente. Se há tanta honestidade entre o povo brasileiro, por que buscamos sempre tirar proveito de tudo? Por que simplesmente não aceitamos esperar como todos deveriam em uma fila? Pelo menos pra mim, o cerne da problemática é esse e por isso este texto não foge ao outro, mas antes se alinha, pois, sinceramente, de fato não consigo enxergar pessoas a favor da democracia nessas manifestações, tampouco, nos discursos de facebook. Obviamente essa é minha visão, e como democrata aceito críticas respeitosas e discordâncias, até porque não sou o dono da verdade e fico feliz pelo seu questionamento. Espero ter respondido de modo satisfatório. Partindo do pressuposto que seja um leitor meu, acredito que alinhando este a outros textos, perceberá o que está nas entrelinhas.
      Abraços!

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