segunda-feira, 18 de abril de 2016

Triste destino é o homem morrer conhecido de todos, mas desconhecido a si mesmo



Por que a solidão assusta tanto as pessoas? Será que o encontro consigo mesmo é tão assustador? Pascal já dizia que os homens sentem enorme dificuldade em olhar-se no espelho sem máscaras, pois o encontro entre o eu e o mim sempre é doloroso. Em outras palavras, o autoconhecimento, tão importante para o crescimento emocional, depende de uma dose de solidão. No entanto, na sociedade contemporânea a solidão parece não agradar muito as pessoas.

Vivemos o tempo inteiro em multidões, sejam elas reais ou virtuais, de modo que evitamos ao máximo estar sozinhos. É como se quiséssemos evitar o encontro com aquilo que de alguma forma nos fará olhar a ordem estabelecida de outra forma e, por consequência, se afastar da manada. É sempre mais fácil seguir a manada, se adequar ao protocolo social, do que ser um inadequado que se guia pelo seu próprio querer.

Sendo assim, procuramos andar aglomerados, fazendo as mesmas coisas, comportando-se da mesma maneira, ainda que não haja uma vontade imanente de fazer tais coisas ou agir de determinada forma. Não nos damos conta que somos apenas reprodutores da vontade de terceiros que não tem nada a ver conosco.

Essa adequação acontece em grande parte pelo medo da solidão. Obviamente, somos seres sociais, como atentou Aristóteles. Logo, precisamos conviver com outras pessoas, ter boas relações, o que, aliás, é muito bom para o indivíduo. Todavia, também é necessário que o indivíduo tenha tempo para si, em solidão, a fim de que possa avaliar a sua vida, tomar decisões sem pressões alheias, rever seus atos, rever seus relacionamentos, etc. Esse processo faz com que o indivíduo possa se conhecer melhor (autoconhecimento) e conhecendo-se melhor, perceberá o que de fato o faz feliz.

Se fugirmos o tempo inteiro da solidão, nunca nos conheceremos verdadeiramente e, assim, nossa vida não terá identidade própria, mas antes, seguirá os ditames de outras vidas. Quantas vezes, estamos imersos o tempo inteiro em relações e nos comportamos de determinada forma, e quando nos afastamos percebemos que aquelas pessoas e aquele comportamento não se coadunavam com o que somos?

Ficar um sábado em casa, assistindo a um filme ou lendo um livro, ao invés de sair com os amigos pode ser uma ótima experiência, em que na tranquilidade do silêncio das vozes alheias, podemos perceber coisas que passam despercebidas no dia a dia, em que estamos envoltos por um sem número de pessoas (sejam reais ou virtuais). E, assim, descobrimos muito sobre nós mesmos e, sobretudo, sobre o que não somos.

Esse processo de autoconhecimento não é fácil, uma vez que ao descobrirmos mais sobre nós mesmos, poderemos deixar de achar muitas coisas, as quais fazíamos, interessantes, incluindo pessoas. Por isso, de forma genérica, as pessoas buscam passar a maior parte do tempo “conectadas”, como se a solidão não possuísse qualquer utilidade.

O que buscamos, na verdade, é fugir das dores que o autoconhecimento promove, já que sabendo o que se é e buscando-se o que se quer, há grande chance de sermos vistos como loucos e de deixarmos de ser uma peça interessante para o grupo. Afinal, em um mundo que vive sob ditaduras, como a da felicidade, todos agem do mesmo modo, fazem as mesmas coisas, são bem sucedidas e estão sempre felizes, não é interessante ter alguém que viva do jeito que lhe apraz, que pense por si só e não siga as regras do jogo.

A vida em sociedade é necessária e extremamente importante, desde que cada um possa ser o que de fato é. Somente, assim, criam-se relações de verdade, com raízes e sinceridade e não troca de conveniências, em que se busca tão somente a fuga do medo de estar só. A verdadeira felicidade está em buscar o que realmente faz o coração terno. Portanto, às vezes, a solidão é importante para que possamos saber o que faz o coração terno, e não apenas reproduzir o que o protocolo social diz ser o caminho da felicidade.

Em hipótese alguma a solidão deve ser adotada como morada. Mas, visitá-la de vez em quando é tão importante quanto se relacionar com alguém, pois precisamos saber o que somos para que possamos dar o que há de mais puro e verdadeiro em nós. Antes de vivermos uma relação, é preciso saber o que somos, e isso só aprendemos na companhia da solidão. Pois, como dizia Francis Bacon:
"Triste destino é o homem morrer conhecido de todos, mas desconhecido a si mesmo."

7 comentários:

  1. Caro Genialmente Louco,
    Bom o material, entretanto vejo alguns "vícios redibitorios" na proposta.
    Espero que meu comentário amálgame o seu texto, acrescendo algo pertinente.
    Observe que disses que ficar em casa lendo um livro e assistindo um filme ajuda no "retiro de nós mesmos" e isso é um engano grave, vamos aos fatos.
    Filmes, independente de serem inteligentes, bem feitos, abordando temáticas profícuas não permitem que nos "enfrentemos" ao contrário, estamos mais uma vez, tautologicamnte buscando nos outros (nos autores, diretores, e atores) as respostas que estão dentro de nós mesmos.
    O mesmo se aplica a questão leitura, embora um livro nos obrigue a usar da imaginação.
    Continuamos caceteando com proposições alheias!
    Entendo que a única forma de fazermos o que propõe é através da meditação, e essa pode ser feita de diversas formas, "yogantemente", "taichishuantemnte", em respiração profunda e até em uma corrida.
    O problema da corrida é que os que correm correm de si mesmos e a dopamina liberada não gera autoconhecimento, mas é mais eficaz que assistir filmes.
    Posto dessa forma, assistir filmes só não é diferente de vaidosamente ficarmos falando conosco que somos melhores ou piores que os outros, e o resultado disso é só avolumação do ego.
    Só meditando, ficando de preferência parados em respiração profunda (inspirar contando até dez, pausa contando até dez e expirar contando até dez) e o mais importante evitando pensar, nem que para isso usemos de mantras do tipo "om" ou outro qualquer.
    A respiração profunda "dopa" o ego e se feita em meio a exercício de alongamento, machuca o ego, pois dor incomoda, assim podemos matar o ego que nos diz ad infinitun que somos especiais.

    Peço que perdoe a minha impertinência palpiteira, entretanto li em seu post anterior uma análise que foge ao comum da internet, a imbecilidade perene, e dessa forma entendi que mereces mais do que o entendimento estereotipado.
    Grato pela atenção e espaço cedido.
    César

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    1. Muito obrigado César! Recebo bem as suas críticas, afinal não sou o dono da verdade e o conhecimento cresce com o debate.
      Abraços!

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    2. concordo! embora não interaja com pessoas, mas TV e livro estão alí.meditar, respirar...andar só, é mais estar consigo! só consigo mesmo.bjos

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    3. concordo! embora não interaja com pessoas, mas TV e livro estão alí.meditar, respirar...andar só, é mais estar consigo! só consigo mesmo.bjos

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