quinta-feira, 2 de junho de 2016

Só há um luxo verdadeiro: as relações humanas



A fugacidade da vida é algo fascinante e ao mesmo tempo aterrorizante. Em dado momento estamos fazendo planos, sonhando com o futuro e de repente anos já se passaram e todo aquele entusiasmo de outrora já não existe. Sendo assim, estamos sempre correndo contra a finitude do tempo, buscando de algum modo impedir que os sinos toquem. Dada a sua finitude, a vida, portanto, deve ser valorizada, já que é isso que lhe confere valor. E, quando chego nesse ponto, questiono-me se estamos vivendo vidas que merecem ser vividas.

Estamos cada vez mais condicionados a uma vida voltada para o consumo, em que há uma desvalorização por completo do ser, uma vez que nesse jogo a única coisa que importa é o “ter”. Desse modo, passamos a vida acumulando coisas, embora, tenhamos vidas vazias, solitárias e desprovidas de amor.

Estamos sempre falando, correndo de um lado a outro do palco, como disse Shakespeare, à procura de plateias que nos escutem. Entretanto, não estamos dispostos a ouvir ninguém, já que não nos preocupamos minimamente com nada que não gire em torno do nosso ego, tampouco, existe vontade de colocar-se no lugar de outrem, buscando de algum modo sentir a sua dor.

Estamos sempre fazendo contas, buscando equações que nos tornem mais poderosos e bonitos aos olhos da sociedade e, assim, nos transformamos em máquinas que fazem sempre a mesma coisa, seguindo as regras e ditames determinados pelos símbolos de sucesso e felicidade. Desse modo, como podemos fazer falta sendo completamente iguais aos outros? Sem algo que nos torne únicos? Sem idiossincrasias?

Estamos querendo levar vidas importantes e por isso nos cercamos de riquezas e sorrisos de pessoas que o máximo que conhecem é o nosso nome. Mas, isso pouco importa quando se está em um carro zero importado, não é? Todavia, ser importante é ter uma vida que chegada ao fim, continua existindo nos sentimentos e lembranças importados por alguém que nos amara.

Estamos em plena era da conexão, mas vivemos isolados em nossas ilhas afetivas, protegidos pelos muros do individualismo e cobertos por uma rede wireless de egoísmo. Não dizemos mais eu te amo, apenas não me “delete”. Fingimos que o mundo é plural, entretanto a diversidade não possui lugar diante do ódio e da intolerância.

Estamos sempre felizes, mesmo que essa felicidade seja esvaziar um Shopping Center ou esteja em um comprimido, afinal, não há espaço para a fraqueza em um mundo repleto de belezas e alegrias. Mas, se algo continua a incomodar, nada que mais algum divertimento consumista não resolva ou quem sabe mais uma pílula da felicidade.

Diante disso, volto à pergunta inicial: estamos levando vidas que merecem ser vividas? Acredito que não, já que em nome do Deus “Mercado”, nós valorizamos apenas coisas e, assim, ficamos condicionados e adestrados, servindo obedientemente a um estilo de vida individualizante, egoísta e opressor, o qual renega o que há de mais divino na vida, a conexão entre duas pessoas, algo que deveria ser a nossa maior preocupação e a nossa maior riqueza, já que na vida o único troféu que ganhamos é ter o nosso eu ecoando dentro de outro coração. No entanto, isso é apenas para quem ainda não se transformou em cogumelo e não se esqueceu, como disse Saint-Exupéry, de que na vida: 
“Só há um luxo verdadeiro: as relações humanas.”

6 comentários:

  1. Excelente texto. Infelizmente já cheguei a esta conclusão faz tempo Amigo. Como você mesmo disse: “Só há um luxo verdadeiro: as relações humanas.”

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  2. Pessoas querendo ser feliz e náo podendo com medo de jogar tudo pro alto por causa da familia...eis uma pergunta? Sera que vale a pena viver assim? Presa a familia pelo um grande amor?.é isso que entendi?amor,amor,amor

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Como não concordar com você Erick!
    Como isso é tão claro para você, para mim e para tantos outros, e para a vasta maioria nem dá uma coceirinha na cabeça? E mais, para aqueles como você, eu e os que seguem seu afagante blog, por exemplo, é cada vez mais difícil não sermos influenciados por essa sina louca e desesperada de dar ao nosso ego o tratamento dispensado a uma criança birrenta e totalmente dependente.
    Gostei muito do texto. Parabéns a ti por manter o que há em você que te permite como resultado expressar suas ideias com esse olhar com bastante sensibilidade.
    Gostaria que comentasse sobre ações práticas e funcionais que acredita poder ser um remédio para esse problema.

    Abraço,
    Jefferson Ferreira

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    1. Muito obrigado Jefferson! Parece paradoxal realmente, afinal, nós mesmos perdemos com a maneira degradante que vivemos. Que possamos acordar desse sonho ridículo.
      Abraços!

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