Em um mundo onde as
aparências predominam, onde a vida transformou-se em palco, todos devem parecer
felizes, como se a felicidade fosse uniforme e perene. Nesse contexto, os
outros sentimentos que nos formam (e não são poucos) ficam em segundo plano, ou
são vistos como sentimentos menos importantes, não se admitindo lugar,
sobretudo, para a tristeza.
A animação “Divertida
Mente” da Pixar relata o conflito entre os sentimentos e vem bem a calhar com o
atual momento que atravessamos. A vida contemporânea exige cada vez mais de
nós; a fluidez dos relacionamentos tornou a vida muito mais dinâmica e, assim,
devemos estar prontos a sempre nos adaptarmos a novas situações.
Esse fato por si só já
é difícil, contudo, a vida moderna cobra de nós um resultado que, muitas
vezes, não podemos ou não queremos dar. A necessidade em produzir resultados,
com metas sempre maiores, nos transformou em autômatos ou como prefere Saramago
– máquinas de ganhar ou tentar ganhar dinheiro. Pouca importa o que gostamos ou
sentimos, devemos produzir, dar resultados, acontecer na vida.
O único sentimento que
é levado em consideração é a "felicidade/alegria", pois o sorriso é a melhor
propaganda de uma pessoa bem sucedida, digo mais, é "conditio sine qua non", isto é, condição necessária do seu
sucesso, afinal, quem depositaria credibilidade em um indivíduo de sucesso com
fotos tristes no instagram?
Não que eu seja contra
a felicidade das pessoas, inclusive nas redes sociais, mas qualquer pessoa minimamente
inteligente sabe que é impossível ser feliz o tempo inteiro, e que essa
obsessiva cobrança que nos é imposta tiraniza a felicidade, como se esta fosse
obrigatória o tempo inteiro.
A tristeza, dessa
forma, é o símbolo maior do fracasso, logo, se você não quer ser um fracassado,
não fique triste. Essa relação é no mínimo questionável, pois é a partir da tristeza
que determinamos a alegria. Dito de outro modo, seria impossível apreciar um bom momento se ele fosse comum.
Necessitamos
da tristeza para dar o real valor aos bons momentos, já que, se todos os
momentos fossem alegres, estes se esvaziariam de sentido. Além disso, a
tristeza expõe as nossas fragilidades e aquilo que escondemos ou não queremos
enxergar; derruba os nossos muros, as nossas proteções e permite que o outro
nos olhe como realmente somos. São nos momentos tristes que percebermos quem de
fato se importa conosco e procura nos entender.
A
tristeza expõe as nossas fragilidades, mas é assim mesmo que somos, seres
frágeis. Portanto, devemos ter maturidade para lidar com os altos e baixos da
vida. Todavia, a ditadura da felicidade nos torna incapazes de lidar com
situações que nos deixam tristes, assim como cria personagens como o “feliz do
facebook”, o qual se preocupa com os mínimos detalhes para impressionar os
outros e mostrar como a sua vida está indo de vento em popa, mas na verdade
esconde a tristeza numa ilha perdida.
O
problema é que um dia essa ilha é descoberta e a tristeza acumulada é exposta
de uma só vez. Como esse indivíduo não está preparado para lidar com a mínima
tristeza, logo, não saberá lidar com tamanha. Essa falta de maturidade
emocional ocasiona o oposto da felicidade excessiva – a depressão.
Mas, a
depressão não coloca fim a ditadura da felicidade, pois, como
você tem que ficar projetando o tempo inteiro a ideia de que vai dar certo, você deve estar sempre feliz
e, portanto, não há espaço para a depressão. Busca-se nos antidepressivos a
solução, criando mais uma vez uma “felicidade fake (ou face?)”. E pior não
resolve o problema.
A questão é que não
existe problema em ficar triste, sentir dor, sentir-se fraco, pois a tristeza e
a dor fazem parte da vida e são importantes para o crescimento emocional. A
tristeza é uma espécie de luto necessário ao crescimento, servindo como um
ampliador do horizonte, em que desarmados podemos analisar a situação com
clareza e enxergar uma nova perspectiva.
Em um mundo onde a dor
não é “curtível”, esquecemos que o choro acalma e faz suportar o peso dos
problemas. Não é através de uma felicidade empacotada, cheirando sempre a tinta
fresca que os problemas são resolvidos. É necessário sentir dor, ficar triste e
chorar para que assimilemos as dificuldades e amadureçamos.
É preciso cair,
fracassar, saber que nem sempre irá acertar, que problemas aparecerão, que é
melhor muitas vezes ser inadequado, que não precisa sorrir o tempo inteiro, que
não deve ser o que o mundo impõe a você e, sobretudo, que o importante na vida
é tentar. Mesmo que fracasse e fique triste, tente novamente e como disse um
sábio irlandês - fracasse cada vez melhor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário