Sempre me pego pensando na fragilidade humana,
na fugacidade da vida. Tudo passa tão depressa. É como se estivéssemos travando
uma luta constante contra as areias da ampulheta, buscando um modo de não
deixá-la passar. A brevidade da nossa existência é algo que assusta, mas, ao
mesmo tempo, é essa finitude que confere valor à vida. É por ter um fim que a
vida é tão importante e, logo, ela deve ser vivida, muito embora, a maior parte
das pessoas insista em apenas existir.
Essa reflexão aparece no filme “Sociedade dos Poetas Mortos” de Peter Weir. Na obra, conhecemos por meio do professor John Keating (Robin Williams) a expressão “Carpe Diem”, uma expressão no latim, que traduzida literalmente significaria algo como aproveitar o dia. No entanto, esse conceito é muito mais abrangente como explica o professor. Ele significa que devemos buscar viver de modo pleno, sugando a essência da vida. Sendo assim, somos induzidos à busca interior, pois, somente com o autoconhecimento (conhece-te a ti mesmo) conseguimos saber o que somos, o que queremos e, portanto, estaremos aptos a “aproveitar o dia”.
Essa ideia de autoconhecimento é bem trabalhada
na obra ao utilizar um cenário de um colégio interno, em que jovens garotos
estão descobrindo o que são. O maior exemplo é representado por Neil (Robert
Sean Leonard), um garoto que descobre a sua paixão por atuar, encontrando o que
quer fazer da vida. Entretanto, a escolha de Neil é totalmente desrespeitada
pela sua família que o quer exercendo uma profissão “bem vista” socialmente.
Assim como a família de Neil, o colégio também tinha métodos de ensinos
pragmáticos, de modo que o único objetivo da educação era tornar os jovens
aptos a entrar nas melhores faculdades do país.
Esse comportamento é repetido pela sociedade
contemporânea, em que as pessoas devem se adequar a padrões comportamentais,
preocupando-se apenas com escolhas que lhe proporcionem retornos econômicos. A
subjetividade do indivíduo, bem como, o lado humanístico da educação são
destroçados e substituídos por um tecnicismo burocrático e uma privação total
da liberdade de ser do indivíduo, demonstrando a pseudo-liberdade na qual
vivemos.
Dessa maneira, como o indivíduo pode sugar a
essência da vida sendo desprovido de liberdade? Como pode viver de forma plena
quando a subjetividade é tolhida? Ao querer converter homens em máquinas, que
só se preocupam em fazer somas, como disse Exupéry, os homens deixam de ser
homens e passam a ser cogumelos e, assim, deixa-se de viver para apenas
existir, lembrando Oscar Wilde.
Estamos transformando a vida em uma grande linha
de produção, em que cada um tem uma função determinada, da qual não pode se
afastar. Vivemos sempre com pressa e só enxergamos valor naquilo que é
determinado pela sociedade. Não temos outra preocupação que não seja consumir,
além de não possuirmos interesse algum por algo que não possa ser rotulado com
uma embalagem.
E quanto ao amor, à poesia, à arte? Onde ficam
essas coisas? Como podemos aproveitar o dia sem elas? A educação deve servir
apenas para entrar em uma boa faculdade? Empregos devem servir apenas para ter
bons salários? Viver é somente consumir e seguir o protocolo social? E quanto
ao que você é? Os seus sonhos? A sua beleza? Devemos deixar tudo isso de lado
por fama, sucesso, dinheiro, reconhecimento social? Mas qual o valor do
reconhecimento de uma sociedade doente?
É preciso estar acordado e não se deixar levar
por ondas perigosas que destroem o que somos, pois ao deixarmos o nosso “ser”
ser destruído, consequentemente, deixaremos de sentir a vida em sua plenitude e
poder sugar a sua essência. Esta não está em manuais que determinam fórmulas
para viver, e sim, no interior de cada um de nós, no silêncio oculto da alma,
em cada compasso marcado pelas batidas do coração.
Para aproveitar o dia é
necessário coragem para tomar caminhos que provavelmente não sejam os mais
escolhidos. É preciso estar disposto a não ser aceito, ser visto como
inadequado ou estranho. Todavia, ser fiel às próprias crenças, possuindo um eu
forte, é o que permite ter a seiva da vida dentro de nós.
“Garotos, vocês devem se esforçar para encontrar suas próprias vozes. Porque quanto mais vocês esperarem para começar, menos provável que vocês possam encontrá-la.”
Sabemos que seguir a estrada
mais percorrida é sempre mais fácil, entretanto, seguir a estrada mais
percorrida é permitir ser transformado em um estranho de si mesmo, pois como
nos ensina Keating: “Duas
estradas se divergiam na floresta e eu, eu tomei o caminho menos percorrido, e
isso fez toda a diferença”.
Ao nos acostumarmos com a
nossa vida tecnicista, burocratizada e hedonista, fomos pouco a pouco matando
as nossas singularidades e, assim, a beleza da vida. Somos estranhos
mergulhados em um mundo de indiferença. Estamos aprisionados entre réguas e
compassos que querem medir o que sentimos. Vivemos em meio a conversar vazias e
vidas sem sentido. Dizem que estamos no caminho certo e insistimos em repetir
que somos homens vivendo vidas felizes. Mas estamos apenas presos a vidas
medíocres, calados, atormentados por um silencioso desespero.
A vida passa depressa e por
isso é tão importante aproveitá-la. No entanto, para aproveitá-la é preciso
estar disposto a fazer como John Keating, seguir o seu próprio caminho,
buscando o seu eu, quebrando regras que só servem para tirar a liberdade do
homem e subindo em cima da mesa para olhar as coisas com os seus próprios
olhos.
É preciso acreditar no que somos e no poder das palavras. É preciso lembrar que
vamos além de somas e números, que estamos cheios de paixão. E o mais
importante: acreditar que somos livres e viver a liberdade do que somos, pois,
somente assim, conseguiremos “aproveitar o dia”. Sendo mais do que cogumelos
como lembrou Exupéry, fazendo mais do que existindo como disse Wilde e tendo a
certeza de Thoreau, de que chegada a hora da morte, sugamos toda a essência da
vida.
É preciso acreditar no que somos e no poder das palavras.... lindo texto parabéns
ResponderExcluirObrigado Fê! :]
ExcluirTexto incrível ������ Encantada!
ResponderExcluirObrigado Dani!
ExcluirMaravilhoso!! Grata.. _/\_ ♥
ResponderExcluirPerfeito.Muito mais q MARAVILHOSO..
ResponderExcluirGratidão.!
Esse Erick,como sempre,dando um show de humanidade..
ResponderExcluirLindo texto!!
Erick Morais, parabéns por suas publicações. Todas provocativas e com a capacidade de tocar a alma!
ResponderExcluirObrigado Marisa!
ExcluirAcompanhe os novos textos no nosso novo endereço: www.genialmentelouco.com.br
Abraços!
Perfeito! penso parecido com o que vc escreveu. Também tenho um blog www.felixpequeno.com.br Caso deseje, de uma olhada.Abraço!
ResponderExcluirQuero colar esse texto na minha testa
ResponderExcluirEu só queria que Robim Willians tivesse internalizado o script. O estilo de vida utilitarista é completamente inócuo, estéril e deixa o sujeito desalmado, tornando- se em objeto. A sociedade está cheia desse tipo de gente oca,vazia e que só pensa em dinheiro. É escrava e nunca vai conseguir usufruir das coisas belas que só a liberdade pode proporcionar; pois a mesma é exclusiva para os Humanistas! A não ser que mude! Existe esta possibilidade para todos! Basta ter vontade!
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