quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Felicidade em comprimidos: A triste realidade de uma geração dopada


Existe uma sociedade que quer ser feliz o tempo inteiro. Existe uma sociedade que não enxerga elegância em poder cair e se levantar. Existe uma sociedade que cobra “sucesso” o tempo inteiro de você. Existe uma sociedade onde desconhecem a dor e a tristeza. Existe uma sociedade que só enxerga o valor das vitórias. Existe uma sociedade que desconhece a vida.

Existe uma sociedade que toma Prozac e, assim, nunca ouviu falar em ficar triste, em sentir-se infeliz. Basta um comprimidinho diário e veja só, lá vai mais um rindo à toa. Os problemas... Que problemas? Ah! Que solução mágica inventaram. Como pôde o homem ser feliz sem o Prozac? Pobre dos nossos ancestrais que não puderam engolir a felicidade com apenas um copo d’ água.

Existe uma sociedade que toma Ritalina e, assim, nunca ouviu falar em desatenção. Há muito que se aprender. Há muito que se fazer. Portanto, ficais concentrados. Acabaram as desculpas para não ser o melhor, para aquela desconcentração que lhe custou o dez na prova. E não me venha com essa de que não precisa tirar dez sempre. Ora, você quer ser um alfa ou um gama menos?

Existe uma sociedade que toma Lexotan e, assim, nunca ouviu falar em ficar preocupado, ansioso com algo. A tranquilidade reina, sem direito a exceções. Todos são perfeitos no que fazem, têm relacionamentos maravilhosos e carreiras de sucesso. Todos os créditos, é claro, devem-se ao Lexotan. Para que ficar preocupado com o futuro quando essa maravilha nos dá garantia de tudo?

Existe uma sociedade que toma Rivotril e, assim, nunca ouviu falar em ficar estressado ou agitado. Que calmaria. Quanta paz. Quanto amor. Já não sabemos o que é ter olheiras, por causa de insônia. Tudo é tão tranquilo. E aqueles dias em que se acordava “virado” viraram lendas que pouco se ouve falar. Nem se fala naquelas sensações ruins de aperto no coração, né? Não consigo imaginar o quão ruim era a vida daqueles que desconheciam dessa dádiva.

Existe uma sociedade que não passa por incômodos ou dores existenciais. Existe uma sociedade que transformou tudo em mercadoria e, assim, compra-se tudo. Amor, tranquilidade, felicidade, disposição, atenção, sucesso, tudo em comprimidos. Dor? Que palavra estranha, está para ser abolida do vernáculo. O último relato de lágrimas já data de muito tempo. Oh! Admirável mundo novo cheio de belezas. Maravilhosas são as tuas pílulas. Maravilhoso é o sabor da tua felicidade.

Existe uma sociedade que toma essas maravilhas, que insistem em chamar de remédios, separadas. Mas, já estão produzindo todas juntas em um único e belo comprimido, o qual chamam de soma. Haveria nome melhor? A publicidade já está tratando de divulgar esse milagre, com o seguinte slogan – E se por acaso alguma coisa andar mal, há o soma. Quanta graça em único lugar.

Existe uma sociedade perfeita, em plena paz. Com apenas um problema, um selvagem, esquisito que ainda chora. Que lástima! Reclama aos quatro cantos o direito de ser infeliz. Diz não estar disposto a virar um dopado e perder sua autenticidade. Que audácia! Bem, ele já está sendo removido para a selva que é seu lugar. Entre nós só aceitamos aqueles que aceitam a felicidade. Confesso que só não entendo a música que o selvagem insiste em cantar: “Eu que já não quero mais ser um vencedor. Levo a vida devagar pra não faltar amor”. Faltar amor com o soma? Quanta ingenuidade.

6 comentários:

  1. Os comprimidos eles nos ajudam por pouco tempo por que depois tiram a nossa capacidade e o nosso poder de reação podemos rir com r
    Rivotril e melhorar nossa concentração com Ritalina mais na verdade esses super poderes que os remédios nos dão não serão para sempre.....

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    1. Verdade. Os medicamentos são importantes para os que de fato precisam e não para qualquer um que sofra algum tormento que faz parte da vida. Essa alienação medicamentosa é perigosa e cria indivíduos incapazes de viver por si mesmos.

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  2. Mas a "sociedade" não existe.

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  3. Várias partes de seu texto são corretas. Mas existem milhares de pessoas que PRECISAM dessas drogas, pois possuem problemas com sua química cerebral. AINDA BEM QUE EXISTEM ESSAS DROGAS, pois elas diminuem o sofrimento psíquico, tornando viável a vida dessas pessoas. Pode-se ver, pela leviandade com que escreves sobre as drogas que visam estabilizar e viabilizar a vida de milhares de pessoas, que nunca passaste nem de perto por um sofrimento psíquico causado por desequilíbrios que acontecem no cérebro dessas pessoas. Se vais escrever à respeito de alguma coisa, pesquise. Conte todos os lados da história. A não ser que a ideia seja ser superficial mesmo. Gostaria que experimentasses por apenas um mês ter depressão grave e transtorno bipolar e não tomar nenhuma medicação. Depois, seria muito interessante que você lesse esse seu artigo. Não teria feito.

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