Momentos
de crise são essenciais para que se possa repensar o modo de vida estabelecido,
seja em qual campo for. Nós, brasileiros, atravessamos um momento de crise que
supera a esfera econômica. E, como dito, são nesses momentos conturbados que
novas formas de agir devem ser construídas. No entanto, preferimos adotar uma
postura de extremo pessimismo, em que não há solução possível. Pior que isso,
nos acomodamos em nossos lugares a espera de um “milagre”.
Culpar o Estado por tudo é inútil, pois a classe política advém da sociedade civil, e por isso ela é tão suja. Dito de outro modo, a sociedade civil está impregnada de corrupção e sujeira, logo, se a classe política é oriunda da sociedade civil, não consigo enxergar outro comportamento da classe política que não seja a corrupção. Logicamente, isso não justifica os atos criminosos daqueles que deveriam zelar pelo bem comum. Todavia, o jeitinho brasileiro faz com que em todas as esferas sociais haja corrupção.
Sendo
assim, culpar tão somente os políticos pela sujeira do país é uma atitude no
mínimo fácil para não dizer mal intencionada. Cada um de nós tem a sua parcela
de culpa no todo, uns mais, outros menos, mas todos contribuímos para a crise
que se alastra e, como disse, não é somente econômica, mas, antes de tudo, moral.
A
moral, ao contrário do que se pensa, não se sustenta com coerção. Desse modo não
adianta querer hipertrofiar o sistema jurídico, que por sinal já é
hipertrofiado, com leis que pretendem controlar cada passo da vida civil do
indivíduo. É preciso uma atitude moral, e a moral realizar-se na liberdade. Isto
é, uma atitude moral é individual e livre, é aquilo que faço independente de
ter alguém me olhando. É uma atitude que pertence ao próprio sujeito, portanto,
não necessita de coerção estatal.
O
grande problema é que nós brasileiros, de uma forma geral, fazemos julgamentos
morais que apenas beneficiam o nosso próprio eu. Ou seja, buscamos apenas a
realização dos nossos desejos, dos nossos apetites, do bem individual. Sequer,
cogitamos a possibilidade de ter atitudes que visem o bem comum, a
coletividade. Buscamos, unicamente, satisfazer o nosso conatus, como diria
Hobbes ou a nossa vontade de potência, como diria Nietzsche.
Essas
atitudes são tomadas de forma clara e com a consciência limpa. Quantas vezes já
ouvimos alguém se gabar de passar a perna em outrem, como se fosse algo digno
de condecoração conseguir alguma coisa sem esforço ou apoiando-se nos ombros de
alguém. Essa construção moral brasileira, a qual vê como positiva ações que
tirem ou pelo menos visem tirar vantagens sobre outra pessoa, é a raiz do mal
que assola a nação e leva a crises, como a que atravessamos.
Como
cada um vive na sua bolha individualista e egoísta, em que busca a oportunidade
de se dar bem às custas dos outros, há uma inatividade muito grande em relação
a possíveis mudanças, pois estas dependem da ação individual e aqui reside o
problema. Quem está disposto a sair da zona de conforto do jeitinho brasileiro
para agir de forma proba e honesta? Quem está disposto a abdicar do bem privado
pelo bem comum? E não falo em abdicar da individualidade no sentido da
subjetividade, pelo contrário, digo do egoísmo que faz com que vivamos sem
olhar para o lado e que nos torna cegos morais, como bem atenta Thoreau:
“Depois do primeiro rubor do pecado vem a indiferença, e, de imoral, ela passa a ser, digamos, amoral, e não inteiramente desnecessária à vida que levamos.”
Todos
nós somos capazes de tomar atitudes que condizem com o país justo e melhor que
tanto se ouve falar. A mudança começa da esfera menor para a esfera maior. Discutir
o mérito da causa não resolve o problema. É preciso arregaçar as mangas e ter
coragem de viver aquilo que hipocritamente se prega. Se quisermos um país
melhor, devemos contribuir para um país melhor. Não importa se a ajuda que
podemos oferecer é ínfima se comparado ao que os governantes poderiam fazer. O importante
é que cada indivíduo reveja os seus atos, para que não se pegue contribuindo
para o mal que condenamos.
Iniciar
essa mudança é extremamente difícil, reconheço, mas todos os inícios são
dolorosos. Entretanto, a dificuldade e a limitação não devem ser empecilhos
para que possamos contribuir para uma mudança nas estruturas do país.
“Pois não importa quão limitado possa parecer o começo: aquilo que é bem feito uma vez está feito para sempre.”
Desse
modo, ainda que uma única pessoa, você leitor, contribua de forma isolada no
seu meio social para uma nação que tenha como estandarte a justiça, essa ação
produzirá efeitos, pois foram ações bem feitas, justas em si mesmas. Ninguém,
sozinho, é capaz de revolucionar o mundo, mas todos nós somos capazes de
contribuir com a revolução. Uma revolução que torne o mundo um lugar melhor
para convivermos. Uma revolução que começa no interior de cada homem, como uma
estrela no meio do universo, que, embora simples, tem brilho próprio, pois
“Um homem não tem que fazer tudo, mas algo, e não é porque não pode fazer tudo que precisa fazer este algo de maneira errada.”
Esse tique não é um exclusivo brasileiro, é uma herança lusitana. Por cá não é diferente, talvez por sermos uma povo de menor dimensão é que o efeitos de escala seja menos evidente globalmente
ResponderExcluirA corrupção atinge todas as sociedades, no entanto, no Brasil, ela se caracteriza por encontrar fatores que além de facilitar, influenciam na sua prática.
ExcluirMuito bom o texto. Não concordo com Carlos Faria ao dizer, que a corrupção de lá é como cá. Coisa essa que os brasileiros até adoram dizer, pra fugir à responsabilidade histórica e mesmo pessoal. Vivi dez anos em Portugal e não vi nem dez por cento da corrupção que vejo a todo minuto ou em tudo que necessito fazer. Principalmente, a corrupção estatal. Uffffaa Ser brasileiro no Brasil não tá fácil. Além de sermos o quinto país do mundo em violência. E na leitura somos os últimos. Nosso povo parece não ter sensibilidade para as artes, principalmente para a leitura. Seremos assim, eternamente, o país do futuro.
ExcluirObrigado Borges! Concordo com você, somos facilmente controlados e isso acontece, sobretudo, pela nossa falta de sensibilidade às artes.
ExcluirPerfeito!
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