quarta-feira, 31 de agosto de 2016

A Revolução dos Bichos e o Impeachment: Entre Porcos e Homens



Na fábula criada por George Orwell, “A Revolução dos Bichos”, os animais se organizam e fazem uma revolução que expulsa o domínio humano da granja onde vivem. Esta deixa de se chamar “Granja Solar” para se chamar “Granja dos Bichos”. No entanto, o levante que prometia uma vida melhor para os animais, não aconteceu, já que com o passar do tempo, os líderes da revolução, os porcos, tornaram-se tão corruptos e injustos quanto os homens. Neste momento histórico nada define melhor a situação do Brasil.

É sabido que o governo PT, embora tenha produzido melhorias socioeconômicas indiscutíveis, está longe de cumprir o que prometera, acima de tudo, por ter sucumbido à corrupção praticada pelos outros partidos ou como acontece no livro, se habituar rapidamente às práticas humanas. Dessa forma, o impeachment sofrido por Dilma, algo que expus que aconteceria faz tempo, não constitui nenhum golpe, haja vista as arbitrariedades e injustiças cometidas pelo partido.

Entretanto, o processo de impeachment, seja na sua esfera jurídica, seja na esfera social, não se configura como uma retaliação às ilicitudes do PT, e sim, a conjuntura econômica que se formou, abrindo espaço, portanto, para a perspectiva de um golpe político. Para esclarecer isso vamos a alguns fatos. Durante o governo Lula, também houve escândalos de corrupção, o mensalão estourou em plena campanha eleitoral, todavia, como a economia estava de vento em popa, não se escutou panelas sendo batidas, tampouco insatisfação e indignação com a corrupção. Afinal, quando a economia vai bem, tudo vai bem, não à toa regimes autoritários tiveram apoio popular, como a ditadura militar no Brasil e o nazismo na Alemanha.

Prosseguindo, após o afastamento de Dilma, o patriotismo indignado com a lama da corrupção também se esvaiu. O discurso, antes raivoso com Dilma, deu lugar a um discurso de paciência com o presidente interino Michel (agora efetivo) e seus aliados, como se estes estivessem alheios à sujeira do país. Sendo assim, o grande problema não se refere à corrupção e todos os males decorrentes dela, mas sim a crise econômica e nisso reside o maior problema do impeachment, pois quando se olha apenas para o fator econômico, os demais são desconsiderados, de tal maneira que, ainda que os porcos do PT mais do que o impeachment, mereçam responder dentro da justiça por tudo que fizeram, isto é, por todas as mortes que poderiam ter sido evitadas, por todas as crianças sem educação que entraram na criminalidade, por todo pai de família que não tem como pôr o pão na mesa e enxergando o desespero nos olhos dos filhos tem que abraçá-los e dizer que ficará tudo bem; devemos reconhecer que os demais partidos também são co-autores de todos esses crimes e que, do mesmo modo que o PT, também devem pagar por isso.

No entanto, como disse, quando apenas o aspecto econômico é analisado, todo o resto se explode e perde valor, de maneira que até esquecemos que antes dos porcos, éramos explorados e massacrados pelos homens, que a corrupção não foi inventada pelo PT, ela sempre esteve presente na nossa sociedade favorecendo os poderosos e mantendo o povo excluído, e que não há benefício algum em substituir os senhores, porque, ainda que aparentem ser diferentes, todos carregam chicotes nas mãos.

No fim da história de Orwell, os animais constatam que já não havia diferença entre os porcos e os homens, haviam se tornado um só. Porcos não eram melhores que homens, estes não eram melhores que porcos. Eram iguais. Neste exato momento esquecemos completamente esse detalhe: porcos e homens são iguais. E, assim, pautas como a reforma política já saíram de cena faz tempo, dando lugar a um maniqueísmo de pessoas que insistem em defender os porcos, enquanto outros estão sedentos para devolver o comando aos homens. Desse modo, pouco importa o impeachment ou quem assumirá o poder, porque enquanto nos contentarmos com migalhas, sempre haverá motivos para defender um lado, mesmo que esses lados sejam na verdade um só, o qual representa a nossa permanente alienação e escravidão que impede que de fato a granja deixe de se chamar Solar para se chamar Granja dos Bichos.

7 comentários:

  1. Gostei da comparação!
    Até sugiro o nome da granja: Fossa brasilis!
    O último a sair, fecha a tampa e puxa a descarga!
    E não esqueçamos de apagar as luzes e os "iluminados"!! :-D
    Si vis pacem, parabellum

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  2. (Novo Anônimo)
    [Antes de começar a conversa sobre o conteúdo do texto, correção técnica: de vento em popa, e não poLpa.]

    Apesar das melhorias promovidas pelo PT, principalmente na área social, o partido se distanciou de suas bases e se entregou aos mecanismos já estabelecidos na política do país, que podemos resumir em "toma lá, dá cá".

    Enquanto esta troca estava confortável para todo mundo, ninguém tinha do que reclamar. Afinal, o bolso de todo mundo estava intacto, aparentemente.

    Tudo começa a ruir quando o bolso é afetado, ou seja, a economia. E a partir deste momento, o interessante é criar um símbolo, que reúna tudo o que há de mal nele.

    No caso da Granja, criou-se o símbolo do traidor Bola de Neve. Na política brasileira, concentrou-se no símbolo PT. O governo teve muitas falhas, mas concentrar todo o mal em um único símbolo só serve aos mal intencionados, pois condenam o tal e ao acabarem com ele, estão livres para continuar defendendo seus interesses particulares.

    E é isso que está acontecendo. Saltam para fora do "barco PT", concentram o mal neste símbolo (o nosso Bola de Neve) e ao destruir o símbolo, geram uma falsa sensação de segurança na população, para poderem continuar com o mesmo modo operante por mais algum tempo...

    Triste essa realidade. Muda-se o governo, mas não se muda a política. As mudanças a vista estão mais para retrocessos...

    Parabéns pelo seu texto. Orwell em sua obra foi muito didático na maneira de mostrar como funciona a relação de poder, o que acontece realmente e o que é mostrado para a multidão, ou animais...

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    1. Olá Anônimo! Obrigado pelo toque, acabei me passando. Infelizmente, faltam pessoas com a sua lucidez. Escrevo muito sobre a questão da servidão voluntária e estou convencido de que ela atingiu seu ápice. Espero que possamos um dia mudar essa mentalidade pequena que nos prende a uma vida medíocre.
      Abraços meu caro!

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    2. Realmente "A revolução dos Bichos" retrata bem o momento político , social e econômico em que vivemos. Mas é importante ressaltar a comparação é entre o sistema capitalista e socialista, haja vista que o PT não instaurou o Socialismo no Brasil. Ele apenas ampliou garantias sociais significativas que fez a diferenca para a classe dos " descsmisados", termo que usávamos para denominanarmos os excluídos sócio-econômicamente.Hove ganhos? Sim! Ele tirou o Brasil do Mapa da fome e popularizou o ensino universitário, entre outras garantias que o sociòlogo, FHC, sequer ousou.O que está em jogo, hoje, é a garantia da lisura da Constituição Democrata, que foi usurpada para assegurar a prisão de Lula para não concorrer às eleições. Isso causa asco em quem aínda não esqueceu a quantidade de pessoas que morreram e outras aínda desaparecidas, para que possamos usufruir das benécias de uma Constituição Democrática, que está se transformando enormemente em uma constituição de papel!

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  3. Quanto à servidão voluntária, Érick, não podemos pensá- la nos moldes da atitude dos burgueses, é claro! Mas, na servidão da sociedade Pós-moderna, aportada no desempenho. A servidão voluntária, hoje tem como seu tirano a si próprio! Lembrei-me de Fágner: " eu caçador de mim". Precisamos, como costumas dizer, quebrar as grades de nossas mentes e permitir-mos ser livres! Basta ter vontade!

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