Sempre
me pego pensando sobre o sentido da vida. Pergunto-me se cumprimos um destino
ou se fazemos o nosso próprio destino, se há um sentido maior para tudo que
fazemos ou se estamos apenas flutuando na brisa, se a vida vale à pena ou se é
uma causa perdida. Estamos sempre com
pressa, correndo aqui e acolá, em tentativas desesperadas de encontrar um lugar
para nos encaixar, de sermos mais amados, de prolongar os instantes de
eternidade que escoam pelas nossas mãos.
A
complexidade da vida não permite que consigamos defini-la em um único sentido,
já que somos precários e finitos, de tal modo que nunca conseguiremos ter a
totalidade do que a define. Assim como, nunca estivemos do outro lado para
saber o que de fato nos espera. Dessa maneira, a única certeza que possuímos é
que estamos vivos e que enquanto estamos vivos, devemos impor à vida, que por
ora possuímos, a grandeza que ela necessita.
Se
devemos ter uma vida grandiosa, consequentemente, algo, a meu ver, nós podemos
concluir: a vida não é uma causa perdida.
Por mais que na maior parte do tempo encontremos um mundo duro e seco, que vai
aos poucos minando o nosso interesse e, sobretudo, a nossa capacidade de
sentir; a vida está cheia de belezas e magia. O grande problema é que estamos
sempre ocupados demais para perceber as alegrias que a vida nos proporciona.
Possuímos uma cegueira seletiva, a qual não nos permite enxergar o que é
essencial na vida.
As
nossas vidas burocráticas e automatizadas retiram a sensibilidade e a poesia
que possibilitam o olhar lúdico sobre as coisas e que nos permite reparar nos
pequenos prazeres da vida, os quais escondem a verdadeira beleza e felicidades
que esta possui. Por que uma criança fica encantada com a chuva, com uma flor
ou com um pássaro? Por que as crianças se divertem fazendo desenhos ou comendo
um biscoito? Porque em tudo isso há beleza, no entanto, conforme vamos
“crescendo”, vamos deixando a criança que há em nós morrer e, assim, deixamos
de enxergar o mundo de forma poética, isto é, com o coração, para tão somente
vê-lo com os olhos. É por esse motivo que Saint-Exupéry dedicou “O Pequeno Príncipe” à criança que seu
amigo Léon Werth foi um dia, já que para enxergar o que há de belo no mundo,
deve-se necessariamente se olhar com o coração.
O
olhar poético não torna o mundo mais belo por ser mais ingênuo, e sim por ser
mais lúcido, uma vez que percebe todas as tristezas que retiram nossa potência
e nossa vontade de viver, bem como, enxerga as verdadeiras belezas da vida,
desvinculadas das mentiras disfarçadas de felicidade que nós adultos compramos
para preencher o nosso vazio. Sendo
assim, é preciso coragem para ser criança e explorar a vida, com curiosidade
para descobrir o que ela esconde, permitindo-se estar sem a padronização da
vida adulta, apenas brincando de forma distraída, já que como bem atenta
Guimarães Rosa: “Alegria só em raros
momentos de distração”.
Até
que o ciclo se encerre e os sinos toquem, a vida é como uma noite fria puxando
o nosso cobertor, cheia de dor e penúria. É o abismo que olha profundamente
nossos olhos numa tentativa de sedução. É tristeza, porque há tanto para se
fazer em apenas uma vida. Todavia, a vida é também um desafio que está repleto
de alegria. É a aurora que vem sobre as colinas toda manhã, é o canto dos
pássaros, é o cheiro da chuva, é a conversa gostosa, é o abraço apertado, é o
riso demorado. Até a morte a vida pode não ter um sentido maior, mas ela não é
uma causa perdida, porque o que é essencial está a nossa espera em raros
momentos de distração se estivermos atentos observando com os olhos poéticos do
coração.
Até
que o ciclo se encerre e os sinos toquem ou até a morte, a vida é cheia de
momentos tristes, de perdas e derrotas que nos levam para o fundo do poço, que
tornam nosso coração tão seco e quebradiço que perdemos a capacidade de sentir.
Mas é também uma experiência maravilhosa, repleta de momentos de felicidades
que representam a eternidade que possuímos. Até a morte a vida é sinuosa e
complexa, sem qualquer manual de instrução, mas, como dito, para quem sabe
prestar atenção, ela está repleta de alegria e é isso que a torna bela e
grande. Assim, a grandeza da vida consiste em ter a coragem de nunca deixar a
criança que existe em nós morrer para que sempre consigamos ter poesia nos
olhos e enxergar as felicidades, pois lembrando mais uma vez Guimarães Rosa:
“A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.”
Ótimo texto! Me lembrou imediatamente a música:
ResponderExcluir“Eu fico com a pureza das respostas das crianças:
É a vida! É bonita e é bonita!
Viver e não ter a vergonha de ser feliz,
Cantar,
A beleza de ser um eterno aprendiz” (Gonzaguinha).
Sem sentido mesmo são certas coisas que a gente faz com a vida e depois que colocar a culpa nela.
Obrigado!
ExcluirMaravilhoso!Precisava disso hoje. :)
ResponderExcluirObrigado! ;)
ExcluirMuito bacana seus pensamentos.. Jeito fácil e agradável de compreender.
ResponderExcluirO defeito da humanidade é se acomodar, ficar na zona de conforto.. Sigamos pra mudar...
Muito obrigado! ;)
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