O
homem sempre pareceu sentir dificuldade em se conectar de fato com o outro.
Essa falta de habilidade em criar laços e permitir se infectar por aquilo que
está no outro demonstra aquilo que Erich Fromm chamava da incapacidade que o
homem possui para amar, e isso em grande parte se deve a dificuldade de ouvir
e, por conseguinte, saber se colocar no lugar do outro, isto é, ter empatia.
Hoje,
mais do que nunca, possuímos ferramentas que possibilitam a conexão entre as
pessoas. No entanto, paradoxalmente, estamos cada vez mais nos distanciando, de
modo que a nossa “conexão” só existe enquanto o wi-fi está ligado. Isso se
deve, a meu ver, ao fato de que a grande rede possibilitou que qualquer um
pudesse ser protagonista e, assim, ter voz perante um sem número de pessoas
presente nessa imensa rede. Ou seja, o desenvolvimento tecnológico possibilitou
o aumento exponencial de vozes, mas não de ouvidos.
Esse
comportamento faz com que eu me torne incapaz de absorver uma frase sequer
pronunciada por uma pessoa, visto que na minha ânsia em ser sempre o
protagonista, desprezo o papel que o outro representa na minha vida. Dessa
forma, se alguém me diz, por exemplo, que está sem dormir há três dias, eu digo
que estou há sete; que o pai está doente, eu digo que o meu morreu; que está
desempregada, eu digo que estou com dívidas até o pescoço. Isto é, não me
importa o que o outro disse, importa-me apenas aquilo que sinto e que me
incomoda.
Sendo
assim, como é possível se conectar a alguém inexistindo um diálogo? Como posso
tentar entender o que entristece o outro se sou incapaz de ouvi-lo? Essa
carência do ouvir, potencializada com o desenvolvimento dos aparatos
tecnológicos, convalidou que o problema da empatia, de colocar-se no lugar do
outro, nem de longe foi apaziguado, pelo contrário, já que os microfones estão
abertos e disponíveis para todos que reverenciam seus monólogos.
A
grande questão é que as pessoas não se dão conta de que falar sem um
interlocutor não melhora em nada aquilo que sentem. Ou será que reações do tipo
“hum, sei como é” e centenas de likes em desabafos no Facebook são suficientes
para que nos sintamos ouvidos? Mas, obviamente que se queremos ser ouvidos,
devemos estar dispostos a ouvir e aqui reside o cerne do problema.
Saber
ouvir é extremamente trabalhoso e traz dor de cabeça, por isso, falar é fácil,
ao passo que saber ouvir é uma raridade. É preciso, antes de tudo, ter a tal da
empatia, palavrinha na moda, que anda na boca do povo, vejam só, mas que quase
ninguém ainda aprendeu o significado. Ter empatia é a capacidade de se colocar
no lugar do outro, de sentir a sua dor, de estar disposto a se sujar para
vasculhar o que há de oculto nas longitudes do outro, de ter compaixão e sentir
o peso do fardo que o este carrega.
Como
andamos bem preguiçosos, poucos possuem a raridade de ouvir e, assim,
caminhamos de um lado a outro do palco, falando e falando, sem interrupções ou
qualquer sinal que demonstre que não estamos sozinhos e que aquilo que sentimos
pode ser visto no reflexo de um olhar.
Como
já disse, estar disposto a dividir as angústias que o outro carrega,
colocando-se no lugar deste e tentando compreender as tormentas que o afligem não
é fácil, todavia, esse é o único modo de ser um “empata” e, consequentemente,
um bom ouvinte. De se tornar alguém que é capaz de entender que nesta terra a
vida é dura e que todos nós precisamos de um afago e de uma palavra que
demonstre que aquilo que falamos não se perderá como lágrimas na chuva.
Alguém
que tenha a sensibilidade necessária para permitir ser tocado por uma dor que não
é sua. Alguém que tenha a coragem para elevar a sua existência além de si mesma
e mergulhar em águas profundas. Alguém que sabe a importância de ser abraçado
com os olhos quando tudo parece não fazer sentido. Alguém que sabe o quão belo
é estar ligado a outra pessoa e ter ouvidos dispostos a escutar até as
angústias mais silenciosas do coração de quem se ouve, pois só ao ouvir
permitimos estar conectados e ter o divino se manifestando nessa ligação.
Muito pertinente ao momento vivido no mundo, em que as relações solidas só são mais um aspecto que remete aos ''moldes antepassados'', o ideal de hoje é ter incontáveis seguidores nos ''moldes contemporâneos''. Seu pensamento me lembra bastante Zygmunt Bauman, nas relaçôes fluidas. Os valores sólidos se liquefazem e o vicio sistêmico das relações inconsistentes, torna-se um ideal a ser buscado para maior visibilidade frente à sociedade.
ResponderExcluirAbraço..
Muito obrigado! Infelizmente é verdade. Gosto bastante do velho Bauman e muitos textos baseiam-se em suas ideias.
ExcluirAbraços!
"como já disse, estar disposto a dividir as angústias que o outro carrega, colocando-se no lugar deste e tentando compreender as tormentas que o afligem não é fácil, todavia, esse é o único modo de ser um “empata” e, consequentemente, um bom ouvinte. " LINDO!
ResponderExcluirObrigado!
ExcluirAdorei o texto. Penso nisso diariamente, que mundo louco temis vívido... Para onde será que irão nossas relações?
ResponderExcluirSinto que nossas conversas são disputas sem saber o porque.
Que bom que não estamos sós.
Obrigada
Adorei o texto. Penso nisso diariamente, que mundo louco temis vívido... Para onde será que irão nossas relações?
ResponderExcluirSinto que nossas conversas são disputas sem saber o porque.
Que bom que não estamos sós.
Obrigada
Obrigado! Infelizmente é verdade.
ExcluirNós estamos com um espaço novo, então, confere lá para continuar acompanhando os textos: www.genialmentelouco.com.br
Beijos!