Sabe aqueles dias em
que você não está bem ou quando você analisa a sua vida e percebe que as coisas
não estão nem um pingo do jeito que você gostaria? Ou, ainda, quando acontece
algo que tira o nosso chão e nos deixa sem rumo? Nesses momentos a tristeza é
inevitável, assim como, o sentimento de impotência diante da vida, de tal
maneira que a chama que nos mantêm firmes enfraquece. Precisamos, então, de
pessoas capazes de se colocar no nosso lugar e de algum modo sentir a nossa dor.
Ou seja, precisamos da empatia dos que nos cercam para que percebamos que não
estamos sozinhos e que por mais dolorosa que seja a caminhada, chegaremos ao
final.
Em uma sociedade tão
individualista e egoísta como a nossa, torna-se extremamente difícil encontrar
pessoas empáticas. Cada um pensa na sua satisfação pessoal e na resolução dos problemas
que unicamente o incomodam, de forma que não há um olhar contemplativo em
relação ao todo, para que possamos enxergar que a vida não se circunscreve
apenas a nossa existência e que as outras pessoas também têm problemas e dores,
já que são seres humanos como nós também somos.
Dessa forma, para que
se possa ter empatia, antes é necessário fugir do senso comum, que prega apenas
valores individualistas voltados para o próprio umbigo. Em outras palavras,
jamais conseguiremos possuir empatia se o nosso mundo se circunscrever somente
a nós, de modo que o outro seja algo totalmente inóspito e sem as mesmas
constituições emocionais que as nossas.
Para ter empatia é
indubitável que o indivíduo permita ser tocado por um dor que não é sua e
esteja aberto àquele novo mundo a sua frente. É preciso permitir ter as suas
veias e artérias invadidas por um corpo estranho, com pensamentos diferentes
dos seus, problemas diferentes dos seus e monstros diferentes dos seus. É
preciso estar aberto a um ser que mesmo diferente precisa de um olhar e um
afago que o faça sentir que não está atravessando aquela tormenta sozinho.
No entanto, em uma
sociedade em que o egoísmo predomina, é difícil encontrar pessoas que realmente
possuem a capacidade de colocar-se no lugar do outro. Pessoas que vão além da
simpatia, que é importante, mas não supre de modo algum a falta da empatia.
Quando estamos tristes não precisamos apenas de alguém que só saiba contar
piadas e nos queira levar pra sair. Precisamos de alguém que entenda a nossa
dor, que respeite o nosso luto e que demonstre que apesar de incômoda, aquela é
uma situação que faz parte da vida e que devemos enfrentá-la por mais que seja
difícil.
Precisamos de pessoas
que sejam capazes de também mostrar a suas feridas, revelar os seus medos e
confessar as suas fraquezas, para que percebamos que não somos os únicos que
choramos e às vezes temos vontade de desistir. Não se trata de provocar
“felicidade” em função de uma tristeza alheia, mas de demonstrar a humanidade
que há em nós, que faz coisas belas e grandiosas e também tem fraquezas, dores
e angústias. Isto é, demonstrar que todos nós caímos e precisamos de ajuda e
que a dor que agora sentimos, outros já sentiram e sentem, de modo que não há
motivo para desespero, pois o fardo que parece insuportável, outros já
suportaram, bem como, não é necessário carregá-lo sozinho, pois há alguém para
dividir esse fardo e ajudá-lo a sair dessa situação.
Assim, ter empatia é
ter o coração aberto para outra vida que precisa de nós naquele momento. É
saber que naquele lugar poderia ser eu, você ou qualquer um. É ter a
sensibilidade para perceber que não é porque uma determinada situação não mexe
conosco, que não mexe com o outro; que não é porque algo não aperta o nosso
peito, que o outro não pode sentir o seu peito esmagado.
Ter empatia é
entender que as pessoas são diferentes, sofrem por coisas diferentes, reagem às
situações internas e externas de modo diferente, mas que, acima de tudo, são
seres humanos que em meio a divergências fazem a mesma coisa, sentem. E, assim,
precisam ser ouvidas, compreendidas e acarinhadas, pois o que há de mais nobre
na empatia é essa capacidade de sentir uma dor que talvez jamais nos incomodasse.
Mas, que nos incomoda pelo outro, em razão do outro e por isso é ao mesmo tempo
tão pesada e bela e faz com que sintamos o âmago de outro ser ecoando dentro de
nós, pois como diz Kundera:
"Não existe nada mais pesado que a compaixão. Mesmo nossa própria dor não é tão pesada quanto a dor co-sentida com outro, por outro, no lugar de outro, multiplicada pela imaginação, prolongada por centenas de ecos."
Parabéns pela reflexão e pelos textos!
ResponderExcluirMuito obrigado!
ExcluirBelo PS . T a...
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