A solidão é um monstro
assustador. Mais cedo ou mais tarde ele acaba nos assustando, sobretudo, quando
olhamos para a vida e encontramos um imenso vazio. Falamos, gritamos e na maior
parte das vezes escutamos tão somente o nosso eco como reposta. Diante de um
mundo que nos amedronta, estar só torna-se um problema que deve ser
solucionado. E, assim, surgem muitas relações, não por amor, não por vontade de
estar com alguém que enternece o coração, mas apenas pelo medo de ficar
sozinho.
Vivemos em um mundo em
que cada vez mais estamos isolados em nossas ilhas afetivas e,
consequentemente, temos a solidão instalada. Além disso, não existem mais
referências sólidas para que possamos nos apoiar. Tudo é fluído, está
constantemente em movimento e muda a cada instante. Desse modo, estamos gradativamente
mais necessitados de algo que nos ajude a suportar um mundo seco e duro, que
parece ter sempre uma surpresa a apresentar.
Estranhamente, esse
algo tem sido direcionado para as relações afetivas. Ou seja, a solidão, a
carência e o medo de encarar a vida estando só têm sido o combustível de muitos
relacionamentos. Mas, será que vale a pena estar com alguém apenas por medo da
solidão? Será que o amor é apenas algo que duas pessoas que não conseguem viver
sozinhas inventam para ficarem juntas?
Embora, existam
inúmeras interpretações acerca do amor, não acredito que ele seja somente um subterfúgio
de indivíduos incapazes de encarar seus medos e fobias. Do mesmo modo, também
não acredito que valha a pena estar em uma relação dessa forma. O que consigo
observar do meu prisma são relacionamentos frios, sem brilho no olhar e risos
sinceros compartilhados. Relacionamentos marcados por traições em todas suas
possibilidades e sem qualquer tipo de profundidade.
Obviamente, todo tipo
de relacionamento trará contrapesos e muito trabalho, entretanto, o que existem
em relacionamentos fundados pela carência de duas pessoas que não conseguem
assumir a sua singularidade é a comodidade e a preguiça que não os permitem ter
relações vivas, marcadas pelo esforço de fazer a relação dar certo. Aliás, a
singularidade do outro pouco importa, já que a única coisa importante é estar
com qualquer pessoa, ainda que esta não me comunique nada.
Dessa maneira, como é possível
dizer que esses tipos de relacionamentos são fundados em amor ou afirmar que o
amor seja isso? Amor é intimidade, é ter interesse em conhecer os cantos mais
longínquos de um coração. As suas dores mais ocultas, as suas alegrias mais
gratuitas, os seus desejos mais ardentes. Amor é conhecer cada detalhe que
forma o ser amado. O jeito como sorri, a forma como penteia os cabelos quando
está com pressa, a piada que vai contar em determinada situação ou a maneira
engraçada que canta enquanto está no chuveiro. Amor é ter profundidade, é saber
de cada idiossincrasia que forma a singularidade daquele que amamos. É amar
cada detalhe que torna essa pessoa única e insubstituível e que faz com que a
amemos em cada suspiro da nossa alma.
Amor é quando mesmo
podendo voar, escolhemos ficar. Amor é jogar conversa fora enquanto os
ponteiros dos relógios se juntam sem que possamos perceber. Amor é quando somos
um, mas queremos ser dois. Amor é ir além da superficialidade e ter coragem de
mergulhar em águas profundas. O que foge disso não é amor, é tão somente
solidão compartilhada, que pode em alguns dias até afugentar o medo e a
angústia, mas jamais trará a sensação de estar completamente vulnerável e ainda
assim ter o seu coração terno, algo que só sentimos quando estabelecemos um
espaço de conexão entre dois corações, onde há terra arada e adubada para que
raízes de amor floresçam das sementes de coragem e poesia.
Que texto lindo! Gostaria que mais pessoas pensassem assim...
ResponderExcluirMuito obrigado Val! Eu também, mas o importante é não deixar que a luz a que os poetas às vezes dão o nome de esperança se apague.
ExcluirAbraços!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirSerá que existe alguém que saiba amar assim aqui na terra? Porque, amor genuíno, com várias das características que vc mencionou, só conheço o de Jesus por nós... ��
ResponderExcluirÉ difícil, mas eu acredito que exista.
ExcluirAbraços!
Nossa.
ResponderExcluirPrecisava ler isso!
Obga.
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