Vejo
uma geração que finge ser feliz o tempo inteiro, mas esconde medos e fobias.
Vejo uma geração que procura de todos os modos manter uma imagem de sucesso,
mas não consegue ter tranqüilidade para dormir à noite. Vejo uma geração que se
preocupa apenas em atender padrões de comportamento criados por pessoas que
sequer sabem que ela existe. Vejo uma geração que por trás de uma imagem de
autossuficiência, esconde tristeza, insônia, depressão e ansiedade. Vejo uma
geração que deixa o tempo escorrer pelas mãos. Vejo uma geração perdendo a
chance de fazer das suas vidas algo extraordinário.
Vivemos
em um mundo de extrema fluidez e velocidade, o qual cobra em demasia de nós,
como se nós tivéssemos que ser o gabarito do mundo, tendo respostas para tudo,
saídas para qualquer tipo de situação e, assim, acabamos por ficar
sobrecarregados, já que, embora queiram, nós não somos máquinas, tampouco,
super-heróis. Sendo assim, há uma ditadura da “felicidade” que cria modelos de
“sucesso” que devem ser seguidos por todos que desejam ser marcados com o título de “vencedor”.
Entretanto,
nesse modelo não há espaço para o erro, para o choro e para o fracasso, já que
todos são vencedores vivendo suas vidas felizes de sucesso. Além disso, não há
espaço para que o indivíduo seja quem de fato quer ser, uma vez que isso está
fora do modelo de sucesso predeterminado. Diante disso, vem à minha cabeça uma
indagação: se o modelo produz tantos vencedores, porque há tantas pessoas,
sobretudo, jovens, deprimidos? A resposta é simples, porque somos seres únicos,
com personalidade própria, com nossos próprios maneirismos e idiossincrasias,
de modo que criar um modelo padrão e querer aplicá-lo a todos os seres humanos
é totalmente inconcebível, acima de tudo, se esse modelo pressupõe-se como
gerador de felicidade.
Cada
indivíduo é um universo e, portanto, há uma multiplicidade de desejos, ambições
e sonhos que precisam ser cultivados. No entanto, desde cedo tratam de destruir
os sonhos das pessoas, principalmente com a educação tecnicista que recebemos,
a qual substitui os “porquês” pelos “comos”, bem como, destrói-se o universo
lúdico e poético para dar lugar a um mundo de pragmatismo financeiro.
Desse
modo, sonhos vão sendo deixados para trás, abafados por pressão, medo de
fracassar, fobias, ansiedade, tristeza, de tal maneira que quando queremos
retomá-los, temos que passar por todos esses sentimentos negativos que compõem
praticamente o que nos tornamos ao abandonar aquilo que faz o coração se sentir
vivo. E, assim, levamos vidas medíocres, robotizadas e medicalizadas para
simplesmente atender a um modelo que prometeu sucesso e felicidade. Um modelo
que prometeu vidas extraordinárias.
E
como diria o poeta – “De fracasso em fracasso, vamos nos acostumando a ter vidas
que não passam de rascunhos”. Todavia, o problema não são os fracassos em si, e
sim, acumular fracassos de vidas que não significam nada para nós, que não
representam os desejos ocultos de um coração que silenciosamente chora. Vidas
vazias de sentido e importância, sem traços fortes que deixam marcas. Vidas de
silencioso desespero. Vidas de desnutrição existencial. E aqui outra pergunta
vem à mente: será que não somos capazes de ter vidas que vão além de rascunhos?
Acredito
que sim, embora seja necessário se libertar das amarras a que nós
insistentemente procuramos. Esquecer o que o mundo quer de nós e perguntar para
o nosso mundo o que ele quer para nossas vidas. Ao decidir ser quem realmente
você é, a estrada provavelmente estará vazia e escura, mas é preciso coragem
para prosseguir, pois somente quando conseguimos sentir que estamos no lugar
que queremos, podemos sentir o âmago da vida e substituir o silencioso
desespero de uma felicidade falsa pelo canto sincero de uma vida única,
marcante e extraordinária.
que lindo!!!
ResponderExcluirObrigado! :)
Excluir