A vida vai passando
mais depressa à medida que nós envelhecemos. É como se tivéssemos tanto para
fazer e tão pouco tempo a nossa disposição. Vamos imergindo cada vez mais no
mundo dos adultos com seus afazeres e obrigações e, assim, nos tornamos mais
secos e duros, como se perdêssemos a capacidade de sorrir, de se emocionar, de
vibrar com a vida. Deixamos de enxergar as pequenas coisas repletas de alegrias
que existem no mundo, e de repente, a ampulheta está vazia e a vida que tivemos
foi tão pequena que sequer conseguimos nos lembrar de momentos felizes.
Vivemos tão apressados
que perdemos oportunidades de lembrar àqueles que amamos o quanto eles são
importantes em nossas vidas. Esquecemos o caminho que leva a ternura de um
abraço apertado e a gostosura de dar gargalhadas em companhia. Malmente
paramos, olhamos nos olhos do outro e perguntamos com sinceridade – “Como você
está?”. Algo tão pequeno e simples, mas que faz uma diferença enorme e pode
proporcionar imensa felicidade, já que uma das maiores alegrias que possuímos é
saber que somos importantes para alguém, isto é, saber que nós existimos e
temos vida dentro de outros corações.
Qual o sentido de
vivermos tão apressados, tão preocupados em adquirir coisas, se o que
precisamos para sermos felizes não pode ser comprado? De que adianta passarmos
pela vida tão somente preocupados com grandiosidades vazias e não ter sequer um
amigo de verdade? É tolice viver sem o dom das gratuidades, pois somente aquilo
que não pode ser mensurado é capaz de ultrapassar as barreiras do tempo.
Há tanta beleza na
vida, tanto a ser explorado, tanto a ser descoberto e nós aprisionados em
nossas gaiolas, conformados com a sanidade de vidas burocratizadas pelo ego. Levando
vidas de silencioso desespero que seguem o trilho de forma retilínea. Mal sabemos
quão grande é a alegria de perder-se, como dizia Clarisse. A alegria de poder
andar descalço, sentir a terra nos pés e ter o céu como teatro dos nossos
sonhos, manuseados pela magia infantil de quem não esquece jamais de ser
criança.
Alegria de poder sentir
o cheirinho que anuncia a chuva, ouvir o cantar dos pássaros quando chega uma
nova aurora e ver a união do firmamento com o chão quando o sol se põe em dias
primaveris. Coisas simplórias e tão saborosas que deixamos escapar
cotidianamente por estarmos domesticados em vidas pequenas.
Quanto prazer há em
sentar e dividir tristezas, alegrias, fobias e descobertas com outras pessoas.
Quanta prazer há em dividir emoções, em tocar e ser tocado na espinha, em ser
incomodado, em ser agraciado, em ter a maravilhosa singularidade plural do nós.
A vida é muito curta
para ser pequena, para vivermos tão preocupados, tão estressados, tão
apressados e tão tristes. As maiores felicidades estão nas pequenezas da vida,
as quais jamais podem ser descobertas com grandes instrumentos. Para
descobri-las é preciso demorar-se, perder-se, para que, de repente, ela
aconteça e nós estejamos distraidamente atentos para esses instantes de
eternidade, em que até mesmo uma conversa banal pode ser guardada na
inteligência da memória, através de um “eu te amo” dito entre o longo intervalo
de ternura e serenidade de corações em compassos harmônicos de alegria.
"A vida é muito curta para ser pequena",adoro ler seus textos, são tão expressivos, verdadeiros e bem escritos, obrigada por dividir seus pensamentos, que muitas vezes são tão parecidos com os meus,a diferença é que você não os deixa guardados na memória.
ResponderExcluirEu que agradeço Kátia! Poder compartilhá-los é uma das minhas maiores alegrias.
ExcluirAbraços!
Bom dia! Gostei muito do texto. "É tolice viver sem o dom das gratuidades, pois somente aquilo que não pode ser mensurado é capaz de ultrapassar as barreiras do tempo". Por trás de palavras simples e românticas se insinua um jeito muito gratificante de se viver. Todavia, assumir tal postura exige determinação, luta e entrega ou, como costumam falar os religiosos, "é preciso tomar posse", porquê existe toda uma conjuntura que funciona na contramão desse posicionamento. Como diria nosso conhecido bigodudo, "o mundo tentará te dissuadir".
ResponderExcluirComo eu digo sempre: Não se adequar a uma sociedade doente é uma virtude.
ResponderExcluirAbraços!
Um texto do Portal Raízes me trouxe até este aqui. Mais uma vez, grato pela leitura!
ResponderExcluirEu que agradeço Luciano! Espero que consiga lhe manter cativo.
ExcluirAbraços!
Só em ler este texto já me senti capturada para um lugar dentro de mim, que me proporcionou reviver e sentir todas as sensações puras que, nessa sociedade, não encontro espaço fácil para me deliciar com tudo de bom que necessito e mereço. Continuarei na busca. Ah...grata por me proporcionar essa "viagem", que alimentou meu Ser, grande Erick! Beijos.
ResponderExcluirEu que agradeço grande Rosa!
ExcluirBeijos!